O que são Estratégias Verdes nos Negócios?
E por que são importantes?
As estratégias verdes são iniciativas ambientais, normalmente inovadoras, adotadas pelas organizações, alinhadas a conceitos de preservação do ambiente e seus recursos.
E hoje, são muito importantes, pois agregam valor aos negócios levando a um tipo de vantagem competitiva que tende a ser duradoura. Alguns chamam essa vantagem de "eco vantagem".
A United Technologies e a General Eletric, nos Estados Unidos, são dois bons exemplos de empresas que obtiveram lucro por meio da solução de problemas ambientais de seus clientes. Mas não são apenas elas que conseguiram alcançar vantagem competitiva, via as estratégias verdes.
No Brasil, a Natura é um bom exemplo de iniciativas de inovação verde em seus produtos, o que a levou a ser reconhecida no mercado por esse posicionamento, gerando vantagem competitiva duradoura e lucros.
São inúmeras as iniciativas verdes que podem ser incorporadas ao negócio, dentre elas cito apenas algumas:
Redução de emissão de gases efeito estufa nas operações e produtos;
Reciclagem de resíduos para transformação em matéria prima;
Processos circulares de produção;
Otimização de uso de energia e substituição por energias renováveis;
As Cleantechs – "Startups Verdes"
Nessa onda de iniciativas e transformações temos no ecossistema de startups as Cleantechs, também chamadas de “Startups Verdes”, que são empresas que já nascem inovadoras e verdes, e que vêm utilizando tecnologia limpa (verdes) em suas soluções, como alicerce para redução de desperdícios e custos, procurando minimizar, e até eliminar, os impactos negativos no ambiente.
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As cleantechs buscam sintonia entre crescimento do mercado e diminuição ou
eliminação do impacto ecológico negativo, e ao mesmo tempo, o uso eficiente
e responsável dos recursos naturais.
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Existem muitas definições sobre o que é uma cleantech, mas é importante ressaltar que existem três requisitos importantes para uma startup ser classificada nessa categoria:
a. Fazer mais com menos - ênfase em menos recursos;
b. Ser menos poluente;
c. Possuir modelo de negócio rentável – (aqui similar a outras startups)
Esse é um movimento, que teve início nos Estados Unidos e começa a ganhar corpo no mundo, por alguns motivos, dentre eles:
Interesse de investidores que passam a ver oportunidades de retornos atrativos;
Grandes empresas que precisam acelerar para atingirem suas metas ambientais e buscam parcerias com as cleantechs;
Recuperação econômica pós-pandemia
Abordo cada um desses itens acima, ao longo desse artigo.
O Tamanho dessa Indústria.
De acordo com dados do Smart Prosperity Institute, em 2022, essa indústria deverá movimentar cerca de US$ 2,5 trilhões.
O Brasil, um país repleto de carências e que possui enormes problemas que vão desde uma ineficiente gestão de resíduos ao baixo índice de saneamento, é considerado um terreno de enormes oportunidades para a propagação de startups com essa "pegada verde”.
Além disso, as “startups verdes” podem ter um papel ainda mais importante no cenário atual, em que o governo brasileiro é cobrado por agentes locais e do exterior a melhorar suas práticas de sustentabilidade e reverter o desmatamento.
Segundo o Mapeamento do Ecossistema de Startups de Cleantech no Brasil, fruto da parceria entre o FGVces, a COPPE/UFRJ, a Abstartups e a EDP, e viabilizado pelo Programa P&D ANEEL, o Brasil tem 136 empresas deste segmento. Dentre elas, São Paulo é o estado que concentra o maior número de cleantechs (43%).
A pesquisa também classifica as Cleantechs em oito áreas de atuação: Energia Limpa, Armazenamento de Energia, Eficiência, Transporte, Ar & Meio Ambiente, Indústria Limpa, Água, Agricultura.
Alguns exemplos de cleantechs:
· Sensix. A empresa mineira criou um sistema que monitora lavouras que são digitalizadas, e por meio de drones consegue mapear as áreas que precisam de defensivos agrícolas, evitando que haja um uso excessivo desses produtos. Já opera em outros países.
· Polen. Atua na compra e venda de resíduos, transformando-os em matéria-prima sustentável e de baixo custo - num alinhamento ao processo circular de produção e aquisição de matéria prima.
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No cenário pós-pandemia, essa indústria tende a ser de significativa importância para uma recuperação econômica mais acelerada e geração de novas oportunidades de trabalho.
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É preciso ressaltar também, o interesse de investidores em negócios que tenham essa "pegada", podendo representar, inclusive, uma oportunidade para o movimento chamado de clean capital markets (mercados de capital limpo), um mercado de crescimento econômico em potencial, já que muitos países podem visualizar como uma forma de sair da crise, por meio da entrada de elevados investimentos.
E além do cenário de recuperação via investimentos, há outra oportunidade. Os países e empresas precisam encontrar novas formas de operar, atingindo metas ambientais cada vez mais ambiciosas e com menos custos, e isso só será possível com inovações verdes.
Mas o que é preciso fazer para estimular mais essa Indústria?
São várias as ações necessárias para maior estímulo a essa Indústria, no entanto, um dos pontos chave está em migrar do atual modelo de regulação das últimas décadas para um modelo que faça o mercado “pagar” pelos danos que causa, e uma das formas é dando mais incentivos para aqueles agentes que promoverem inovações nos negócios para a solução dos problemas ambientais.
O Ecossistema das “startups verdes” – cleantechs no pós-pandemia
Como mencionei anteriormente, no pós-pandemia, essa indústria tende a ser de significativa importância para uma recuperação econômica mais acelerada e geração de novas oportunidades de trabalho. Isso vem sendo comprovado por estudos e também reconhecido por lideranças mundiais, como EUA e China.
A pandemia trouxe desafios enormes para todos, e haverá a necessidade de quase uma “reconstrução”, equivalente a um período pós-guerra, de acordo com especialistas.
Os reflexos econômicos impactaram nas receitas, nos custos e processos. Quem resistiu e não fechou precisou ou precisará se reinventar.
Por um lado, muitas cleantechs também foram impactadas pela crise, mas ao mesmo tempo, são elas que poderão ajudar os demais setores fornecendo as soluções que gerem mais eficiência, economia, menos desperdício, para que a retomada econômica possa ser acelerada.
Apenas três exemplos dessa possível ajuda aos diversos setores:
1. Diminuição de custos com energia, com a migração para o sistema de energia solar ou eólica;
2. Uso mais racional da energia - eficiência no armazenamento de energia;
3. Otimização e racionalização das rotas de entrega de mercadorias – redução de custos com combustíveis;
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A tendência é que esse ecossistema ganhe mais visibilidade daqui para frente, pois oferece as soluções necessárias para o momento que vivemos e viveremos, impactando diretamente,
na saúde financeira de empresas, na retomada econômica pós-pandemia, mas ao mesmo tempo, nas demandas ambientais e na agenda mundial de retomada verde.
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O estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 29 de julho de 2020, aponta nesta direção e demonstra que uma transição para uma economia com “zero emissão” de carbono poderia criar 15 milhões de novos empregos na América Latina e no Caribe até 2030”.
Zerar as emissões significa alcançar um equilíbrio nas emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) causadas pela atividade humana com a remoção do carbono.
O que falta para esse ecossistema das “startups verdes” – cleantechs deslanchar ?
Não poderia finalizar esse artigo sem tratar dessa questão desafiadora.
É tão visível a importância desse ecossistema de “startups verdes” para as empresas, governos, economia dos países e para a própria sobrevivência da humanidade, que fica difícil de entender os motivos pelos quais ainda não tenha deslanchado.
Na minha visão existem diversos motivos, sendo que alguns são bem concretos de serem visualizados como, por exemplo, as questões de legislação e regulatórias do mercado, o acesso a serviços financeiros específicos, os lobbies que dificultam as inovações para manter o status quo.
Mas minha experiência como advisor, mentora e investidora, também possibilitou identificar que existem questões que classifico como mais subjetivas e precisam ser enfrentadas por cada um de nós.
Aqui vou mencionar apenas algumas, que para mim são muito significativas, mas com certeza, você que está lendo esse artigo, vai identificar outras.
Primeira: Nosso modelo mental atual. Consumimos hoje sem nos preocuparmos com a história dos produtos e serviços que adquirimos, e ouso afirmar que a maioria das pessoas prefere não saber a história sobre o que consome;
Segunda: nossa cultura de produção e descarte. Aqui há um desafio enorme, pois a era industrial orientou seus processos de forma linear e isso continua nos dias de hoje. As empresas continuam descartando o que consideram resíduos, não há uma visão de processo circular no qual tudo pode ser reaproveitado no sistema. E para nós, o que sobra é considerado lixo. No entanto, o “lixo” é rico. É sempre matéria prima para outro.
Terceira: o empreendedor de cleantechs. Percebo que há dificuldade por parte de alguns empreendedores em comunicar ao mercado a proposta de valor do negócio, que de fato, costuma ser mais complexa. E isso é uma pena, porque vejo soluções excelentes que são mal comunicadas e, até mesmo, modelo de negócios mal desenhados. É preciso avançar aqui.
E a última: os investidores. A maioria dos investidores tem uma visão de mais curto prazo. As cleantechs não são startups que escalam rapidamente, tendem a levar um pouco mais de tempo pela complexidade das soluções e também, pelas próprias questões da cultura e do modelo mental, que já mencionei aqui.
Mas mesmo com todos os desafios, não há dúvida de que estamos falando de um ecossistema muito importante para o planeta, para a humanidade e para os negócios.
É inquestionável que a prosperidade e os lucros podem andar juntos.
Precisamos de boas estratégias e motivação para avançar.
Sobre a autora:
Simone Basile. Phd
Empreendedora, Mentora em Negócios e Investidora. Head da INTERACTTI – Rede de Empreendedorismo e Negócios. Idealizadora do conceito Negócios Transformadores. PhD em Ciências pela USP.
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